sexta-feira, 5 de junho de 2009

Resgate cultural: do mangue "inóspito" às periferias urbanas.

 Fruto da funesta dependência em relação à ideologia europeia, a identidade cultural canarinha sucumbiu ao desgaste e ao descrédito por mais de 4 séculos. Numa tentativa audaciosa de resgate às raízes da história brasileira e da conscientização social, surgiu em meio à lama das desigualdades e ao caos da marginalização, um eclético estilo musical: o manguetown.

Da aparente imiscível mistura entre ritmos distintos - maracatu, coco, baião, jovem guarda, samba, etc - e a motorização da sonoridade por efeitos eletrônicos, os "mangueboys" (em especial a banda Nação Zumbi) fizeram dos anos de 1990 uma década de efervescência cultural, levando às massas populares informatividade e incentivo à quebra de paradigmas sociais.

Sob um ambíguo enfoque regionalista e universalista, os ecossistemas dos manguezais recifenses serviram de inspiração para o movimento. Em meio a exorbitantes índices de desemprego, mais da metade da população urbana vivia em favelas e "alagados". Numa alegoria a essa pútrida realidade social, desabrochavam críticas contundentes contra o sistema econômico excludente ("A cidade não para/ A cidade só cresce/ O de cima sobe e o de baixo desce").

A combinação entre arte e crítica aos valores pré-estabelecidos - hibernados no meio musical desde o AI-5, na ditadura - se apropriou do "lamaçal" cultural para desembaçar o espelho-Brasil que há muito tempo perdera seu fulgor. Alcançando abrangência e aceitação, o mangue bit foi a manifestação precursora de um ideário que só faria crescer dali em diante. Da periferia paulistana emergiu o hip-hop; dos morros cariocas, o funk; do âmbito cinematográfico filmes como "Cidade de Deus".

A arte, com toda a sua vivacidade deve servir como agente transformador do inconsistente panorama social contemporâneo. Não importa sua origem, se da lama ou das lonas (barracões), do insolúvel (pobreza e marginalidade) ou indissociável, ela tem uma responsabilidade a cumprir: manter acesas as brasas da revolução por cima das cinzas da ignorância, que ainda ameaçam a identidade nacional a auto-destruição.

2 comentários:

Anônimo disse...

aew!!!bom texto!!
"manter acesas as brasas da revolução por cima das cinzas da ignorância..."
é isso ai,"manter acesas as brasas da revolução" atrvés de artes e culturas,
acredito que sejam uma das maiores armas contra a decadência e a ignorância.
parabéns pra os dois,muito bom!

Míriam disse...

Muito bom esse texto, gente!

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