Subordinação. Impunidade. Patriarcado. A agressão doméstica, uma das deturpações mais frequentes no Brasil, é vista como instrumento para a resolução de conflitos familiares, cujo alvo principal são as mulheres. Por isso, além de política e jurídica, essa coerção é também questão de saúde, na qual a omissão - fruto da submissão feminina - prevalece sobre a arcaica cultura vigente.
Nos mais variados contágios (moral, institucional, patrimonial etc), a violência intrafamiliar focaliza dois panoramas: o indicador corporal, caracterizado pelas lesões lascivas; e o plano psicológico das vítimas, que são considerados pequenos assassinatos diários desprovidos de marcas físicas. A ocultação é resultado desse mecanismo, assim como à dependência financeira e emocional, ao medo, à vergonha e sobretudo à resignação - impedindo àquelas o direito à cidadania.
Além disso, a coação domiciliar fundamenta um ciclo vicioso organizado em três momentos, com variações de tempo em torno de meses a anos: primeiro, o ponto taciturno, onde há apenas o acúmulo de atritos entre o casal; segundo, o período de agressão, iniciado pela descarga descontrolada de toda a tensão antes acumulada; por fim, a reconciliação, na qual o agressor promete mudança de comportamento. Conforme as fases vão ocorrendo, verifica-se maior violênica a curto prazo.
A subserviência nas relações humanas é, pois, pivô dos desequilíbrios acerca da estrutura familiar, inclusive funcionando como agente que incrementa a violência. Portanto, a igualdade de gênero por meio da criação de políticas públicas transversais em ação conjunta com os órgãos de defesa da mulher, associados aos trâmites legais da Justiça - que deveriam ser ágeis e limitados -, rechaçaria aumento nesses crimes, à medida que os tornariam menos impunes.
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